segunda-feira, 29 de novembro de 2010

NOVA ORTOGRAFIA 2 - O trema


O trema (¨), sinal colocado sobre a letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue, gui, que, qui, deixa de ser usado. Vejamos, então, alguns exemplos de como era e de como passa a ser com a nova ortografia:

agüentar => aguentar
argüir => arguir

ágüe (verbo aguar) => águe
ágüem (verbo aguar) => águem
aqüífero => aquífero
bilíngüe => bilíngue

Birigüi => Birigui
cinqüenta => cinquenta
cinqüentenário - cinquentenário
conseqüência => consequência
delinqüente=> delinquente
eloqüente => eloquente
ensangüentado => ensanguentado
eqüestre => equestre

eqüino => equino
freqüente => frequente
lingüeta => lingueta
lingüiça => linguiça
qüinqüênio => quinquênio
sagüi => sagui
seqüência => sequência
seqüestro => sequestro
tranqüilo => tranquilo
ungüento => unguento

Atenção: o trema permanece apenas nas palavras estrangeiras e em suas derivadas. Exemplos: Müller, mülleriano.

É importante notar que a pronúncia não se altera, estando a mudança apenas na grafia, ou seja, na forma como as palavras são escritas, e não faladas.


domingo, 28 de novembro de 2010

HUMOR 5 - Conflito de vocabulário


Haroldo tirou o papel do bolso, conferiu a anotação e perguntou à balconista:

- Moça, vocês têm pendrive?

- Temos, sim.

- O que é pendrive? Pode me esclarecer? Meu filho me pediu para comprar um.

- Bom, pendrive é um dispositivo em que o senhor salva tudo o que tem no computador.

- Ah, como um disquete...

- Não. No pendrive o senhor pode salvar textos, imagens e filmes. O disquete, que nem existe mais, só salva texto.

- Ah, certo. Vou querer um.

- De quantos gigas?

- Hein?

- De quantos gigas o senhor quer o seu pendrive?

- É o que minha filha? O que é giga?

- É o tamanho do "pen".

- Ah, tá. Eu queria um pequeno, que dê para levar no bolso sem fazer muito volume.

- Todos são pequenos, senhor. O tamanho, aí, é a quantidade de "coisas" que ele pode arquivar.

- Ah, tá. E quantos tamanhos existem?

- Dois, quatro, oito, dezesseis gigas...

- Hmmmm... Meu filho não falou de quantos gigas queria.

- Neste caso, o melhor é levar o maior.

- Sim, eu acho que sim. Quanto custa?

- Bem, o preço varia conforme o tamanho. A sua entrada é USB?

- Como é minha filha?!

- É que, para acoplar o pen no computador, tem que ter uma entrada compatível.

- USB não é a potência do ar condicionado?

- Não, aquilo é BTU.

- CBTU?

- Não! Isso é empresa ferroviária. "B"! BTU!

- Ah! É isso mesmo. Confundi as iniciais. Bom, sei lá se a minha entrada é USB.

- USB é assim, ó: com dentinhos que se encaixam nos buraquinhos do computador. O outro tipo é este, o PS2, mais tradicional: o senhor só tem que enfiar o pino no buraco redondo.

- Hmmmm! Enfiar o pino no buraquinho, né? Estanho!... Isso me lembra outra coisa...

- Hehehe! O seu computador é novo ou velho? Se for novo, é USB - chata -, se for velho é PS2 - redonda.

- Continua me lembrando outra coisa... hehehe... Mas acho que o meu tem uns dois anos. O anterior ainda era com disquete. Lembra do disquete? Quadradinho, preto, fácil de carregar, quase não tinha peso. O meu primeiro computador funcionava com aqueles disquetes do tipo bolacha, grandões e quadrados. Era bem mais simples, não acha?

- Os de hoje nem têm mais entrada para disquete. Ou é CD ou pendrive.

- Que coisa! Bem, não sei o que fazer. Acho melhor perguntar ao meu filho.

- Quem sabe o senhor liga pra ele?

- Bem que eu gostaria, mas meu celular é novo. Tem tanta coisa nele que ainda não aprendi a discar.

- Deixe eu ver. Poxa, um smarthphone! Este é bom mesmo! Tem bluetooth, waffle, brufle, trifle, banda larga, teclado touchpad, câmera fotográfica, filmadora, radio AM/FM, TV, dá pra mandar e receber e-mail, torpedo direcional, micro-ondas e conexão wireless!

- Micro-ondas? Dá para cozinhar nele?

- Não, senhor. Assim o senhor me faz rir. É que ele funciona no subpadrão, numa sub-onda, por isso é muito mais rápido.

- E Bluetooth? Estou emocionado. Não entendo como os celulares anteriores não possuíam Bluetooth.

- O senhor sabe para que serve?

- É claro que não.

- É para um celular se comunicar com outro, sem fio.

- Que maravilha! Essa é uma grande novidade! Mas os celulares já não se comunicam com os outros sem usar fio? Nunca precisei fio para ligar para outro celular. Fio em celular, que eu saiba, é apenas para carregar a bateria...

 

- Não, já vi que o senhor não entende nada mesmo. Com o Bluetooth, o senhor passa os dados do seu celular para outro, sem usar fio. Lista de telefones, por exemplo.

- Ah... E antes precisava fio?

- Não, tinha que trocar o chip.

- Hein? Ah, sim, o chip. E hoje não precisa mais chip...

- Precisa, sim, mas o Bluetooth é bem melhor.

- Legal esse negócio do chip. O meu celular tem chip?

- Momentinho... Deixe eu ver... Sim, tem chip.

- E faço o que com o chip?

- Se o senhor quiser trocar de operadora. Portabilidade, o senhor sabe.

- Sei, sim, portabilidade, não é? Claro que sei. Não ia saber uma coisa dessas, tão simples? Imagino, então, que, para ligar tudo isso, no meu celular, depois de fazer um curso de dois meses, eu só preciso clicar nuns duzentos botões...

- Nããão! É tudo muito simples, o senhor logo aprende. Quer ligar para o seu filho? Anote aqui o número dele. Isso. Agora é só teclar... Um momentinho... E apertar o botão verde... Pronto, está chamando.

Haroldo segura o celular com a ponta dos dedos, temendo ser levado pelos ares, para um outro planeta:

- Oi, filhão, é o papai. Sim. Me diz, filho, o seu pendrive é de quantos... Como é mesmo o nome? Ah, obrigado, quantos gigas? Quatro gigas está bom? Ótimo. E tem outra coisa, o que era mesmo? Nossa conexão é USB? É? Que loucura. Então tá, filho, papai está comprando o seu pendrive. À noite eu levo pra casa.

- Que idade tem seu filho?

- Vai fazer dez em março.

- Que gracinha...

- É isso, moça, vou levar um de quatro gigas, com conexão USB.

- Certo, senhor. Quer para presente?

...

Mais tarde, no escritório, Haroldo examinou o pendrive. Um minúsculo objeto, menor do que um isqueiro, capaz de gravar filmes? Onde iremos parar?

Olha, com receio, para o celular sobre a mesa. "Máquina infernal", pensa. Tudo o que ele quer é um telefone, para fazer e receber chamadas. E tem, nas mãos, um equipamento sofisticado, tão complexo que ninguém que não seja especialista ou tenha a infelicidade de ter mais de quarenta anos saberá compreender.
Em casa, ele entrega o pendrive ao filho e pede para ver como funciona.


O garoto insere o aparelho e, na tela, abre-se uma "janela". Em seguida, com o mouse, abre uma "página" da internet, em inglês. Seleciona umas palavras e um 'heavy metal' infernal invade o quarto e os ouvidos de Haroldo.

Um outro clique e, quando a música termina, o garoto diz:

- Pronto, pai, baixei a música. Agora eu levo o pendrive para qualquer lugar e, onde tiver uma entrada USB, eu posso ouvir a música. No meu celular, por exemplo.

- Seu celular tem entrada USB?

- É lógico. O seu também tem.

- É? Quer dizer que eu posso gravar músicas num pendrive e ouvir pelo celular?

- Se o senhor não quiser "baixar" direto da internet...

Naquela noite, antes de dormir, deu um beijo na esposa e disse:

- Clarinha, sabia que eu tenho Bluetooth?

- Como é que é?

- Bluetooth. Não vai me dizer que não sabe o que é?

- Não enche, Haroldo, e me deixe dormir.

- Meu bem, lembra como era boa a vida, quando telefone era telefone, gravador era gravador, toca discos tocava discos e a gente só tinha que apertar "um" botão para as coisas funcionarem?

- Claro que lembro, Haroldo. Hoje é bem melhor, né? Várias coisas numa só, até Bluetooth você tem.

- E conexão USB também.

- Que ótimo, Haroldo, meus parabéns.

- Clarinha, com tanta tecnologia a gente envelhece cada vez mais rápido. Fico doente de pensar em quanta coisa existe, por aí, que nunca vou usar.

- Ué? Por quê?

- Porque eu tinha recém aprendido a usar computador e celular e tudo o que sei já está superado.

- Por falar nisso, temos que trocar nossa televisão.

- Ué? A nossa estragou?

- Não. Mas a nossa não é LCD, não tem HD, tecla SAP, slowmotion e reset.

- Tudo isso?

- Tudo. Boa noite, Haroldo, vai dormir, tá?

domingo, 21 de novembro de 2010

CURIOSIDADES 2 - Cadê e você


Algumas expressões são tão corriqueiras em nosso dia a dia que nem nos damos conta de como se formaram, podendo até causar alguma confusão. É o caso de cadê e você.

Cadê origina-se da expressão "que é feito de tal coisa?", que significa "onde está tal coisa?" ou "o que aconteceu com tal coisa?". A expressão "que é feito de?" foi encurtada para "que é de?", que, facilmente, foi mais encurtada e se transformou em cadê.

você nasce da expressão "vossa mercê" usada no antigo império no tratamento que os escravos davam a seus senhores. No dia a dia, foi logo se transformando em "vosmecê" que, claro, foi logo encurtada para você, transformando-se em pronome.

Essa é a razão para que você, - o pronome e não o leitor -, embora se refira à 2a. pessoa, conjugue os verbos na 3a. pessoa do singular, como ele e ela, e não na 2a. como tu, já que "vossa mercê" pede necessariamente a conjugação do verbo na 3a. pessoa.


Assim, embora você tenha equivalência de 2a. pessoa do singular, sempre virá com o verbo conjugado na 3a. pessoa do singular, o que se repete também no plural.

É por essa razão também que, em Portugal, o tratamento por você é considerado mais cerimonioso do que por tu, fazendo com que familiares e pessoas mais próximas ou íntimas sejam tratadas por tu e autoridades e pessoas desconhecidas ou mais velhas sejam tratadas por você, denotando mais respeito, já que significa "vossa mercê".

Com o advento da internet e da comunicação eletrônica, essas duas palavras já sofreram mais um encurtamento, transformando-se em kd e vc. Sinais dos tempos!

Interessante, não é mesmo? Língua também é história e cultura!

ETIMOLOGIA 2 - Preconceitos


Em meio a tantas manifestações abertas de preconceitos exacerbados nas últimas semanas, é interessante que façamos a pergunta: eu tenho preconceitos? Questionamento importante em tempos em que a globalização nos coloca tão em contato com o diverso, o diferente, o "estrangeiro".

Mas não devemos ter pressa em responder, pois, ao conhecer o verdadeiro significado de alguns nomes que damos aos preconceitos e algumas palavras ligadas a eles, podemos nos surpreender e encontrar preconceitos que nem sabemos que temos ou descobrir que o que temos não é bem preconceito.

Androcentrismo (desconsideração pelas experiências femininas perante o ponto de vista masculino, tendência a tomar como referencial válido apenas as experiências masculinas)
Do grego andrós = homem como macho, em oposição a mulher + kéntron = o que serve para picar, estimulante, excitante, aguilhão, ponta de lança, ponto central de um círculo.

Androfobia (medo ou horror ao sexo masculino)
Do grego andrós = homem como macho, em oposição a mulher + phóbos = ação de horrorizar, amedrontar, dar medo.

Aristocracia (organização sociopolítica baseada em privilégios de uma classe social formada por nobres que detêm, geralmente por herança, o monopólio do poder)
Do grego áristos = excelente, o melhor + krátos = força, poder, autoridade.

Esquisito
Do latim exquisìtus = procurado diligentemente, escolhido, extremado, distinto. Particípio passado do latim exquíro = procurar com diligência, perguntar, informar-se, inquirir, indagar, investigar, que, por sua vez, deriva do verbo latino quaero = buscar, procurar; esforçar-se; procurar obter, procurar saber; pedir, requerer.

Estrangeiro
Do francês étranger, que deriva do latim extranèus = o que é de fora, que não pertence à família, ao país. De extra = fora. 

Estranho
Do latim extranèus = que é de fora, da parte de fora, externo, não é da família.

Falocracia (dominação social, cultural simbólica exercida pelos homens sobre as mulheres)
Do grego phallós = pênis + krátos = força, poder, autoridade.

Feminisno (doutrina que preconiza o aprimoramento e a ampliação do papel e dos direitos das mulheres na sociedade)
Do latim femìna = fêmea + o grego -ismós = elemento formador de nome de ação de verbos.

Ginecocracia (governo de mulheres)
Da forma culta gineco do grego gunê, gunaikós = mulher + krátos = força, poder, autoridade.

Homofobia (rejeição ou aversão a homossexuais ou à homossexualidade)
Do grego homós = semelhante, igual + phóbos = ação de horrorizar, amedrontar, dar medo.

Homossexual (que ou aquele que sente atração sexual e/ou mantém relação amorosa e/ou sexual com indivíduo do mesmo sexo)
Do grego homós = semelhante, igual  + o latim sexus = sexo; antigo, usual; derivado latino de sexuális = do sexo feminino, de mulher.



Lésbica (mulher que tem preferência sexual por ou mantém relação afetiva e/ou sexual com pessoa do mesmo sexo)
De Lesbos = ilha grega localizada no nordeste do mar Egeu, onde nasceu e viveu a poetisa Safo, cujos  poemas, sobre amor e beleza, eram, em sua maioria, dirigidos às mulheres, donde se deriva que o relacionamento sexual entre mulheres passou a ser conhecido como lesbianismo ou safismo + o grego ica = elemento de designação para ciências, artes ou doutrinas.

Machismo (comportamento que tende a negar à mulher a extensão de prerrogativas ou direitos do homem, tendência a considerar a mulher como inferior)
Do latim masclus ou mascùlus = ser do sexo masculino, que deriva do latim mas = o que tem o sexo masculino, macho + o grego -ismós = elemento formador de nome de ação de verbos.

Matriarcado (regime social em que a autoridade é exercida pelas mulheres)
Da raiz indo-européia matr- = mãe, a qual deriva do grego mêtra = matriz, útero + arkhê = poder, autoridade, início, começo.

Misandria (ódio ou aversão aos homens)
Do verbo grego miséó = odiar, detestar e de mísos = ódio, aversão + andrós = homem como macho, em oposição a mulher.

Misoginia (ódio ou aversão às mulheres)
Do verbo grego miséó = odiar, detestar e de mísos = ódio, aversão + forma não culta gino do grego gunê,gunaikós = mulher.

Patriarcado (forma de organização social em que predomina a autoridade paterna)
Do latim patriarcha ou patriarches = patriarca, pai de uma raça; dignidade eclesiástica; que vem do grego patriárkhes = chefe de uma família; gerando a forma pater = pai (com um valor mais social e religioso do que de simples paternidade física) + o grego arkhê = poder, autoridade, início, começo.

Preconceito
Do latim pre = anterioridade, antecipação, adiantamento, diante, superioridade comparativa + concéptus = ação de conter, ato de receber, germinação, fruto, feto, pensamento. Concéptus, por sua vez, deriva do verbo latino capìo, que dá origem a concipìo = tomar juntamente, juntar, reunir; receber, perceber pelos sentidos, conceber, compreender, entender; imaginar; exprimir por uma fórmula, compor.

Racismo (atitude de hostilidade em relação a determinada categoria de pessoas)
Do italiano razza = conjunto de indivíduos de uma espécie animal ou vegetal com características constantes e transmitidas aos descendentes; o qual deriva do latim generatìo = geração ou do latim ratìo = natureza; motivo, causa + o grego -ismós = elemento formador de nome de ação de verbos.

Sexismo (atitude de discriminação fundamentada no sexo)
Do latim sexus = sexo; antigo, usual; derivado de sexuális = do sexo feminino, de mulher + o grego -ismós = elemento formador de nome de ação de verbos

Travesti (artista ou homossexual que se veste com roupas do sexo oposto)
Do francês travesti = disfarçado, que deriva do latim trans =  além de, para lá de; depois de + vestis = vestimenta (sentido geral), modo de vestir, cobrir com vestido.

Xenofobia (desconfiança ou medo de pessoas estranhas, hóspedes ou estrangeiros)
Do grego kséno = estrangeiro, estranho, insólito ou ksénos = estrangeiro, hóspede + phóbos = ação de horrorizar, amedrontar, dar medo.

domingo, 7 de novembro de 2010

HUMOR 4 - A língua portuguesa é difícil... até para fazer amor!


O marido, ao chegar em casa, no final da noite, diz à mulher que já estava deitada:

- Querida, eu quero muito amá-la.

A mulher, que já estava dormindo, com a voz embolada, responde:

- A mala... Ah não sei onde está, não! Use a mochila que está no maleiro do quarto de visitas.

- Não é isso querida, é que hoje vou amar-te.

- Por mim, você pode até ir a Júpiter, Saturno ou ao diabo que o carregue, desde que me deixe dormir em paz...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

NOVA ORTOGRAFIA 1 - O alfabeto

 

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa foi assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990, por Portugal, Brasil, Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e, posteriormente, por Timor Leste. No Brasil, o Acordo foi aprovado pelo Decreto Legislativo n.º 54, de 18 de abril de 1995, e está vigente desde 1 de janeiro de 2009.

Esse acordo é meramente ortográfico, restringindo-se apenas à língua escrita e não afetando nenhum aspecto da língua falada. Ele não elimina todas as diferenças ortográficas observadas nos países onde a língua portuguesa é oficial, mas dá um passo em direção à pretendida unificação ortográfica desses países. 


Mudanças no alfabeto

O alfabeto passa a ter 26 letras, tendo sido reintroduzidas as letras k, w e y. O alfabeto completo passa, então, a ser:

A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V WX Y Z

As letras k, w e y, que, na verdade, não tinham desaparecido da maioria dos dicionários da nossa língua, são usadas em várias situações. Por exemplo:

a) na escrita de símbolos de unidades de medida como km (quilômetro), kg (quilograma), W (watt);

b) na escrita de palavras estrangeiras (e seus derivados), tais como show, playboy, playground, windsurf, kung fu, yin, yang, William, kaiser, Kafka, kafkiano.

HUMOR 3 - A língua do pê

 

A língua permite algumas brincadeiras, aliás, na sua função poética está também o lúdico. Brincar com as palavras é também compor um poema. Leia abaixo:

Pedro Paulo Pereira Pinto, pequeno pintor português, pintava portas, paredes, portais. Porém pediu para parar porque preferiu pintar panfletos.
 
Partindo para Piracicaba, pintou prateleiras para poder progredir. Posteriormente, partiu para Pirapora. Pernoitando, prosseguiu para Paranavaí, pois pretendia praticar pinturas para pessoas pobres. Porém, pouco praticou, porque Padre Paulo pediu para pintar panelas, porém, posteriormente, pintou pratos para poder pagar promessas.
 
Pálido, porém personalizado, preferiu partir para Portugal para pedir permissão para papai para permanecer praticando pinturas, preferindo, portanto, Paris.
 
Partindo para Paris, passou pelos Pirineus, pois pretendia pintá-los. Pareciam plácidos, porém, pesaroso, percebeu penhascos pedregosos, preferindo pintá-los parcialmente, pois perigosas pedras pareciam precipitar-se principalmente pelo pico, porque pastores passavam pelas picadas para pedir pousada, provocando provavelmente pequenas perfurações, pois, pelo passo percorriam, permanentemente, possantes potrancas.
 
Pisando Paris, pediu permissão para pintar palácios pomposos, procurando pontos pitorescos, pois, para pintar pobreza, precisaria percorrer pontos perigosos, pestilentos, perniciosos, preferindo Pedro Paulo precaver-se.
 
Profundas privações passou Pedro Paulo. Pensava poder prosseguir pintando, porém, pretas previsões passavam pelo pensamento, provocando profundos pesares, principalmente por pretender partir prontamente para Portugal.
 
- Povo previdente! - pensava Pedro Paulo. - Preciso partir para Portugal porque pedem para prestigiar patrícios, pintando principais portos portugueses. Paris! Paris! - proferiu Pedro Paulo.
 
- Parto, porém penso pintá-la permanentemente, pois pretendo progredir.

Pisando Portugal, Pedro Paulo procurou pelos pais, porém, Papai Procópio partira para Província. Pedindo provisões, partiu prontamente, pois precisava pedir permissão para Papai Procópio para prosseguir praticando pinturas.

Profundamente pálido, perfez percurso percorrido pelo pai. Pedindo permissão, penetrou pelo portão principal. Porém, Papai Procópio puxando-o pelo pescoço proferiu:

- Pediste permissão para praticar pintura, porém, praticando, pintas pior. Primo Pinduca pintou perfeitamente prima Petúnia. Porque pintas porcarias?

- Papai, - proferiu Pedro Paulo - pinto porque permitiste, porém, preferindo, poderei procurar profissão própria para poder provar perseverança, pois pretendo permanecer por Portugal.

Pegando Pedro Paulo pelo pulso, penetrou pelo patamar, procurando pelos pertences, partiu prontamente, pois pretendia pôr Pedro Paulo para praticar profissão perfeita: pedreiro!

Passando pela ponte precisaram pescar para poderem prosseguir peregrinando. Primeiro, pegaram peixes pequenos, porém, passando pouco prazo, pegaram pacus, piaparas, pirarucus.

Partiram pela picada próxima, pois pretendiam pernoitar pertinho, para procurar primo Péricles primeiro.

Pisando por pedras pontudas, Papai Procópio procurou Péricles, primo próximo, pedreiro profissional perfeito. Poucas palavras proferiram, porém prometeu pagar pequena parcela para Péricles profissionalizar Pedro Paulo. Primeiramente, Pedro Paulo pegava pedras, porém, Péricles pediu-lhe para pintar prédios, pois precisava pagar pintores práticos.

Particularmente, Pedro Paulo preferia pintar prédios. Pereceu pintando prédios para Péricles, pois precipitou-se pelas paredes pintadas. Pobre Pedro Paulo, pereceu pintando...

Permita-me, pois, pedir perdão pela paciência, pois pretendo parar para pensar... Para parar preciso pensar. Pensei. Portanto, pronto, pararei.

E você ainda se acha o máximo quando consegue dizer: "O Rato Roeu a Rica Roupa do Rei de Roma"?



terça-feira, 2 de novembro de 2010

ATUALIDADES 3 - Revista Época - Vamos combinar - Presidente ou presidenta?


Por Paulo Moreira Leite

O país ainda discute se Dilma Rousseff deve ser chamada de presidente ou de presidenta. Na teoria, as duas possiblidades são aceitas.

Sou a favor de presidente. Explico: a palavra se refere a um cargo, a uma instituição — e não a uma pessoa.

Não vejo porque fazer uma distinção de gênero.

O PT falava em presidenta durante a campanha eleitoral. Era uma forma de ressaltar que Dilma poderia tornar-se a primeira mulher presidente.

De minha parte, nunca achei que esse fato fosse relevante. Sempre achei que era um desses factóides do marketing. O detalhe é que faço parte daquele genero humano que ocupa a presidência da República desde que Deodoro mandou a família imperial para a Europa. Para as mulheres isso faz diferença.

Sei que a lingua portuguesa fala em deputada, senadora, governadora…No caso de presidente, admite-se as duas possibilidades.

Até para ressaltar o tamanho dessa conquista, me parece importante sublinhar que Dilma é presidente, como seus antecessores — e não inaugura uma posição que não existia antes dela.



*******
Comentando...

Pena que o jornalista desta conceituada revista peque com tantos erros de acentuação, pontuação e concordância verbal, destacados por mim em vermelho - o correto seria gênero, língua, ... No, e admitem-se.

De minha parte, considero isso inaceitável vindo de um jornalista, ainda mais quando ele pretende falar de língua portuguesa. Será que eu deveria fazer este post na série Lusocídio?

Valem, no entanto, como reflexão, seus comentários em torno do tratamento a ser dispensado à candidata eleita Dilma Rousseff a partir de agora.

ATUALIDADES 2 - Revista Época - Presidente ou presidenta?


Por Araci Reis de França

A eleição inédita no Brasil de uma mulher para a Presidência da República lançou uma questão linguística: Dilma Rousseff é “a presidente” ou “a presidenta” do país?

O tema – qual das duas formas está correta? – passou a ganhar espaço na mídia à medida que o bom desempenho da candidata ia sendo apontado pelas pesquisas de intenção de voto. Jornais, colunas e blogs dedicaram-se a investigar, além do passado da candidata e de seus atributos como postulante ao cargo mais importante da nação, uma suposta tendência de Dilma de usar a palavra “presidenta”, especialmente em seus comícios.

Com a concretização da vitória, o que era uma dúvida menor torna-se uma questão cotidiana. As referências a Dilma terão de ser precedidas do título que ela conquistou, inclusive em ÉPOCA. Afinal, como Dilma Rousseff deverá ser tratada em seu novo posto? E aqui na revista?

Em princípio, como ela quiser. Não há norma na língua que defina uma das formas como errada, nem mesmo menos correta. O professor de língua portuguesa e apresentador de TV Pasquale Cipro Neto diz que a terminação “nte” vem do latim e é comum nas línguas neolatinas, como o português, o espanhol e o italiano. Ela indica o executor de uma ação, normalmente tornando a palavra invariável quanto ao gênero. Por isso, dizemos “o gerente” para homens e “a gerente” quando uma mulher ocupa a função. É o que em português chamamos de substantivo de dois gêneros.

“No caso de ‘presidenta’, talvez pelas conquistas das mulheres em vários territórios, surgiu esse uso, que os dicionários acolheram”, diz Pasquale. “Os três maiores dicionários da língua portuguesa, o Houaiss, o Aurélio e o Aulete, já registram ‘presidenta’ como equivalente de ‘a presidente’, ‘mulher que preside’. As duas formas estão corretas.”

ÉPOCA apurou que Dilma tem simpatia pela palavra presidenta, apesar de uma sondagem feita pelo PT entre agosto e setembro ter constatado que o termo causou estranheza à maioria dos consultados. É a equipe do cerimonial da Presidência, ainda a ser definida, que determinará a forma de tratamento a constar em documentos e atos oficiais. A definição, portanto, só deverá vir em janeiro, data da posse de Dilma, e, a partir de então, respeitaremos sua decisão nas páginas de ÉPOCA (nesta edição, optamos por usar presidenta apenas nas chamadas principais). Mas, quando o assunto é língua, nem sempre as determinações oficiais são seguidas.

A língua é construída diariamente, pelo uso que dela fazem aqueles que a falam e escrevem. Se até hoje a forma “a presidente” esteve disseminada na imprensa e na literatura brasileiras e espelhou uma realidade quase sem mulheres, um cenário protagonizado por uma delas pode inaugurar uma tendência, a das presidentas. Como já houve a oportunidade das doutoras, das ministras... “Vai ser o uso que de fato vai definir o termo. Como acontece na Argentina, em que Cristina Kirchner faz questão de ser ‘la presidenta’, não vai haver saída que não seguir a vontade da própria eleita”, diz Pasquale Cipro Neto.